* "Também É Minha a Magnitude do Brasil"
Ser joinvilense é...
(singela homenagem pelo aniversário de 160 anos)
...ter uma relação paradoxal de cidade grande com infraestrutura pequena - ruas de calçamento e rede de esgoto tratado cobrindo apenas 10% do município.
...ter de “meiar” com a prefeitura os custos de asfaltamento da sua rua, apesar de todo o imposto que se paga.
...se perder num bairro mal sinalizado, porque até hoje não foram instaladas placas dos nomes das ruas em muitas delas - os administradores da cidade preferiram pintar os endereços em postes, tornando impossível a leitura com o carro em movimento.
...fazer chacota do Rio Cachoeira, do prefeito que prometeu tomar banho no rio ao fim do seu mandato quando, segundo o próprio, o rio estaria completamente despoluído.
...não fazer nada a respeito do mesmo rio, seja pelo desinteresse em verificar o seu próprio esgoto, ou de jogar qualquer tralha de casa em suas águas tão judiadas.
...sofrer de uma crise de identidade, por ainda acreditar na virtude da descendência germânica, cuja influência já foi diminuída há muito tempo pelas famílias de vários Estados que para cá se mudaram.
...honrar o município com homônimos carinhosos - Chuville, Brejoinville, Penico de São Pedro - por causa dos seus já conhecidos e respeitados índices pluviométricos.
...ser solidário com os paranaenses pobres que invadiram a periferia da cidade e, hoje, recebem assistência através das inúmeras campanhas sociais.
...lamentar a atual mediocridade do nosso time de futebol e, ainda assim, manter acesa a paixão – os casamentos poderiam ser um pouco assim.
...sentir saudades do inverno naquele verão tipicamente abafado da cidade.
...sentir saudades do verão naquele inverno tipicamente úmido e escuro da cidade.
...ir a um boteco dos mais simplórios e encontrar magnatas da cidade tomando cerveja e jogando dominó.
...desaparecer da cidade nos finais de semana do verão (antigamente, era simplesmente desaparecer da cidade no verão).
...comer uma empada do Jerke; um strudel de maçã da Confeitaria XV; um peixe ao Sopp; um chapeado; costela na quarta ou na sexta-feira; rollmops com Serra Malte gelada no Zeppelin; caranguejo na época em que o jacatirão floresce; um filé de lombo suíno com molho especial do Indaial; frutos do mar com peixes típicos da região; empadão de frango e requeijão da São José...
...fazer jogging na calçada do batalhão porque a cidade não planejou seu grande parque municipal.
...temer o futuro do trânsito da cidade, também por conta da falta de planejamento estratégico urbano.
...lembrar com saudades de uma época de políticos servidores do município (e não o contrário) como seu Wittich (pronuncia-se “vítchi”) Freitag, o qual exigia dos funcionários não apenas probidade, mas também eficiência e corte de desperdícios com os recursos públicos.
...viver contando que morre de vontade de subir o Monte Crista.
...ter um jacaré com nome alemão (o Fritz) morando no rio da cidade, e dividindo o habitat fétido com seus comparsas Lacoste e Jaca - sem contar a fauna aviária que também teima em permanecer ali.
...também ser brasileiro, e ter que ouvir promessas ridículas e infactíveis de candidatos a prefeito, as quais sabemos que não serão cumpridas.
...ter uma Câmara de Vereadores onerosa e que se diz eficaz.
...admirar a zona rural da cidade e sua estrutura turística razoavelmente organizada, mas ir lá apenas uma vez por ano, se muito.
...conviver com as enchentes e se preparar com antecedência para apoiar as campanhas em favor dos desabrigados, pois o poder público contará com essa ajuda e, pacientemente, irá esperar a poeira baixar para que as promessas fiquem no vazio.
...morar na cidade das orquídeas premiadas; das damas-da-noite, com seu perfume inebriante de início de verão; dos ipês e seu espetáculo solo de duas semanas; das azaléias que dividem propriedades; dos lírios amarelos que ornamentam empresas e canteiros públicos; dos jardins floridos e bem cuidados nas casinhas simples dos bairros outrora completamente residenciais.
...constatar que a especulação imobiliária tomou conta da cidade e, a continuar desse jeito, os adornos de morros verdejantes cedo ou tarde serão recordações de fotografias (quando isso acontecer eu caio fora daqui).
...dar risada dos incautos “forasteiros” que quase têm um enfarte toda vez que o avião arremete “por falta de condições” da pista do aeroporto - nós, como bons joinvilenses, já estamos calejados.
...dar um mergulho no Piraí e depois fugir dos borrachudos.
... já ter bebericado um copo de Maracujá Joinville.
...colher goiabas em fevereiro, e ameixas amarelas em agosto.
...tal qual um sapo, estranhar e até clamar por água quando passa um mês sem chover.
...tudo isso e muito mais, porém, como bom joinvilense, estou trabalhando em pleno Carnaval e, portanto, sem muito tempo para escrever. Porque joinvilense é assim mesmo: trabalha duro não apenas para o sustento, mas para a própria dignidade, mesmo que esta virtude esteja tão em baixa hoje em dia.

Não entendo como tao poucos leram o que você escreveu... simplesmente captou a essência de Joinville em todos os detalhes bons e ruins... muita coisa boa que aos poucos estão morrendo junto com a nossa origem...
ResponderExcluirParabéns...
Grande Abraço!