Fazia tempo que eu não ficava tão empolgado com um e-mail como este. Como se pode ver na foto acima, hoje é a data em que Marty McFly chegou ao futuro, acelerando a 88 milhas por hora em um DeLorean, em 1985.
Ainda era criança quando assisti a De Volta para o Futuro, e acredito que qualquer um já o tenha visto, nem que seja na Sessão da Tarde. O impacto da data me fez pensar sobre um monte de coisas durante o dia - no trabalho, na hora da prova da faculdade, no jantar...até que, ao "googar" o nome do filme, descobri que se tratava de um hoax. A data correta, na verdade, é 21 de outubro de 2015, como se vê na figura abaixo. Restam, portanto, mais cinco anos para que possamos ver as profecias do filme se realizarem.
Mesmo com esta pequena decepção, não pude escapar das minhas reflexões sobre as expectativas vistas em meados da década de 80 do século passado. Fiquei pensando, principalmente, o que o dr. Brown pensaria do "futuro-hoje". Só teria a sorte de ver carros voadores em protótipos. Casas automatizadas, como a dos McFly do futuro, por hora são autorrealizáveis apenas na mansão do Bill Gates. A visão idealizada mostrada no filme, se já é distante do que se vê no país onde foi produzido, surge ainda mais fantasiosa para nós, que crescemos nos anos 80. Num país cujo déficit habitacional ainda é enorme e as pessoas estão se endividando por 15, 20 anos para ter um imóvel básico, quando chegará o momento em que a casa do Marty de 2015 será padrão classe média no Brasil, como visto no flme? Que dizer, então, da maioria dos países da África?
Ao recordar aqueles anos, transborda-me uma sensação de perda de inocência. De uma época em que o Brasil ainda era um país fechado em sua mediocridade, e a tecnologia ao nosso dispor era cara e ruim, fossem eletrodomésticos, carros ou máquinas em geral. As empresas nacionais eram pouco afetadas pela concorrência interna (a externa não existia) e ganhavam mais dinheiro no mercado financeiro via inflação inercial do que na inovação, cujo DNA é a competição.
Assistir a "De Volta para o Futuro" naquele tempo era como projetar uma fantasia de consumo que não nos era possível sequer vislumbrar com a economia em frangalhos da época. Somente quando Collor abriu o país para as importações no inícios dos anos 90 é que pudemos vislumbrar, pela primeira vez, a fantasia materializada nos primeiros carrões importados, que literalmente paravam o trânsito por onde passavam. A visão de um Mitsubishi Eclipse foi realmente um choque para a molecada, até então acostumada a achar o Gol GTI o "must" dos esportivos nacionais. Vieram a crise do confisco da poupança, o impeachment, plano Real... o país entrou nos eixos e passou muito tempo se ajustando à revolução dos paradigmas econômicos e da sua inserção no cenário mundial.
No meio disso tudo, veio também uma série de crises financeiras e econômicas...talvez seja a complexidade das coisas hoje, que paradoxalmente me traga uma saudade enorme daquela época rasa, mas simples dos anos 80. Continuamos a ter crises como naquele tempo, até mais sofisticadas - a atual, uma das mais severas da história, com potencial para causar uma depressão que arrastaria o mundo para um lento crescimento por muitos anos.
A informação se desloca instantaneamente pelo mundo e nós nos tornamos dependentes dela como viciados em drogas, por mais que não estejamos dispostos a consumi-la, dados os efeitos negativos que se aplacam sobre o nosso estado de ânimo. Velocidade, instantaneidade, perecibilidade...tudo isso me remete também a consumismo. O enriquecimento foi bom para o Brasil, principalmente para as classes mais baixas, que finalmente passaram a consumir. As pessoas fazem dívidas e compram itens que parecem obrigatórios nas residências atuais: TV de plasma ou LCD, notebooks, celulares de última geração...e no entanto, ao ver gente humilde com celulares muito mais sofisticados do que realmente podem pagar (dá-lhe prestação!), me lanço novamente à dita "década perdida", em que mal tínhamos som estéreo no quarto, quiçá um aparelho de TV. A rusticidade daqueles tempos certamente está vinculada à escassez de nossas opções de consumo, tanto quanto a renda. Por mais clichê que pareça falar disso, me assusta ver como hoje o consumismo é a grande vedete, o barato das conversas de mesa de bar (e as piadas de português e de loiras, onde foram parar?) e dos intervalos para o cafezinho no trabalho. Talvez não choque os americanos, já que este way of life já está consolidado há muito tempo por lá, tampouco as novas gerações que nunca sentiram na veia o que é uma hiperinflação. Mas na qualidade de testemunha ocular deste processo da transição de país de terceiro mundo para emergente, tenho direito a, no mínimo, pedir mais tempo para digestão.
No meio de toda essa voracidade, dessa busca pelo prazer instantâneo, material e relativo ("minha felicidade" comparada à "felicidade do outro"), fica a infeliz constatação de que nosso conceito acerca do que seja o futuro parece distante não apenas em relação às proezas tecnológicas. No âmago de uma sociedade mais integrada, nossos valores parecem também mais deturpados. Dr. Brown certamente pularia este início de século...


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