No Brasil nada é óbvio. Por aqui, o simples é complicadíssimo, porque o bom brasileiro tem medo de parecer simplista, embora as duas palavras não signifiquem a mesma coisa. Neste adorável país impera a necessidade de se justificar dizendo nada com coisa alguma, e não existem virtuoses neste quesito como os nossos políticos. Daí o absurdo rotineiro lido nas páginas de política dos maiores jornais do Brasil. Leio sobre esta ridícula discussão do plebiscito da proibição de armas e me encanto. Ah, Pátria amada, mãe gentil dos filhos deste solo: acuda, acuda, acuda! Como se o Congresso não tivesse coisas muito mais urgentes e necessárias para dispender energia e tempo. Li tanta incoerência nos últimos tempos que preciso surtar! Sobrou a alternativa de copiar o pessoal da Empiricus Research, que rotineiramente utiliza esse método da revista Mad para ilustrar de forma bem humorada - e quase sempre sarcástica - os seus pontos de vista. Um brinde a Lavoisier e Adams Óbvio, e vamos para minha seção Mad em homenagem ao way of life tupiniquim:
É óbvio que...o massacre do Realengo foi um caso excepcional de violência de um psicótico, e que seria muito mais simples combater a entrada ilegal de armas no país e aparelhar melhor as polícias e os sistemas prisionais...
Mas no Brasil...se propõe, no calor do momento, um plebiscito para desarmar a população sem sequer estudar as verdadeiras causas de morte no país por dados estatísticos confiáveis.
É óbvio que...flanelinha não é uma profissão, que a rua é um bem público pago com nossos impostos e que a polícia tem obrigação de prendê-los por extorsão...
Mas no Brasil... as pessoas se acostumaram a ponto de reclamar dos preços de R$ 80 cobrados pelos mesmos nas imediações do Morumbi no show do U2, mas não questionam mais a ilegalidade do ato em si. Enquanto isso, um jornal publica uma enquete sobre o assunto e uma das alternativas diz: "aceito pagar um flanelinha desde que esteja vinculado a uma associação".
É óbvio que... estradas com buracos e defeitos na pista devem ser consertadas com a mesma velocidade vista no Japão pós-tsunami...
Mas no Brasil...o governo simplesmente passa atestado de incompetência e coloca placas avisando aos incautos motoristas para dirigirem com cuidado, pois há buracos e defeitos na pista (oooohhh!!)
É óbvio que...jogar lixo nas ruas entope bueiros e bocas de lobo, ajudando a causar alagamentos nas cidades...
Mas no Brasil...as pessoas acreditam que é Nossa Senhora da Dragagem quem tem moral com São Pedro.
É óbvio que...um país com crescimento consistente como o do Brasil acaba tendo sua moeda valorizada pelo seu sucesso, e que é necessário fazer reformas (política, tributária, previdenciária, fiscal, judiciária...) e investimentos macro para que a competitividade de nossas empresas melhore, apesar do Real apreciado...
Mas no Brasil... tudo se resume a juros e política fiscal regada a truques contábeis, voodoo de autoridades empresariais e sindicais e um governo que quer assobiar e chupar cana ao mesmo tempo.
É óbvio que...dever-se-ia controlar melhor as fronteiras, endurecer as leis, rever relações diplomáticas com governos que apoiam narcotrafiantes e varrer os corruptos do poder para haver redução dos crimes relacionados ao tráfico de drogas...
Mas no Brasil...a discussão é manipulada pelos "proto-intelectuais" que erguem a bandeira da legalização como solução mais factível para a questão.
É óbvio que...se gastássemos mais com fiscalização e punição e menos com campanhas de conscientização de trânsito ou meio-ambiente, os resultados seriam muito mais eficazes (o ser humano, via de regra, só aprende pela dor)...
Mas no Brasil...a discussão é dominada pelos "proto-educadores", publicitários do governo e as gráficas com suas infames cartilhas.
É óbvio que...antes de querer sediar uma Copa ou Jogos Olímpicos o país precisa, no mínimo, ter um mínimo de infraestrutura já consolidada...
Mas no Brasil...a gente extirpa o complexo de vira-lata colocando carros na frente dos bois... aí espera sentado à beira da estrada que alguém venha socorrer.
É óbvio que...uma grande empresa como a Vale sabe avaliar os benefícios de se entrar ou não no setor de siderurgia, mesmo porque essa conversa de que devemos buscar agregar valor nas exportações nem sempre é verdadeira, como explica magistralmente o Alexandre Schwartsman...
Mas no Brasil...o governo acredita entender mais de qualquer coisa do que qualquer um, e danem-se os milhares de acionistas minoritários da companhia.
É óbvio que...pagamos uma carga tributária para termos direito à educação, saúde e infraestrutura...
Mas no Brasil...estes equipamentos são precários e utilizados pela massa que não tem condições de pagar pela segunda vez - leia-se escolas particulares, planos de saúde e rodovias pedagiadas.
É óbvio que...nós já sabemos de tudo, ou praticamente tudo isso...
Mas no Brasil...ninguém faz nada, deixa pros "outros" se virarem.



